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Margarita com canudinho

A imagem mostra uma jovem mulher com cabelos castanhos ondulados e pele clara, sentada em uma cadeira de rodas. Ela está vestindo um vestido laranja vibrante e exibe um sorriso espontâneo e alegre enquanto segura um copo amarelo com um canudo azul em espiral. Seu olhar e expressão transmitem felicidade e descontração. O ambiente ao redor parece ser um espaço iluminado e acolhedor, com plantas, flores amarelas e uma mesa ao fundo, sugerindo um café ou um espaço de lazer ao ar livre.

Uma análise crítica sobre Margarita com Canudinho (2015) e suas representações da deficiência, identidade e autonomia no cinema.

Em tempos de Oscar, vale também falar da produção premiada de Bollywood, onde a temática da deficiência também foi abordada. O filme indiano Margarita com Canudinho (2015), premiado nos Festivais de Cinema de Toronto, Tallin e de Vesoul de Cinema Asiático, revela várias camadas e vivências não somente da personagem principal, mas também das outras personagens. Dirigido pela diretora Shonali Bose, além da deficiência, o filme também aprofunda em outras identidades do ser humano. Dessa forma, a questão central que será discutida nesta análise é como o longa-metragem aborda as representações de deficiência, especialmente no que se refere às questões de identidade, sexualidade, vivência e autonomia, e como a narrativa questiona ou reproduz as perspectivas da deficiência presentes na sociedade.

Margarita com Canudinho é um filme que conta a história de Laila, interpretada por Kalki Koechlin, uma jovem com paralisia cerebral, que está em um processo de desenvolvimento e autodescoberta. Laila tenta viver com autonomia e busca encontrar-se no mundo. Dessa maneira, a obra cinematográfica é uma reflexão sensível e profunda sobre a busca por liberdade e por novas experiências no contexto de uma mulher com deficiência, que além de começar a vivenciar essa nova fase da vida adulta, também tem que enfrentar as expectativas e limitações que a sociedade impõe.

Laila, que vive na cidade de Delhi com sua família e mãe protetora, vai para Nova York estudar e começa a descobrir e permitir-se vivenciar outras partes de sua existência, como a sua sexualidade. Ela inicia um relacionamento com Khanumi, uma mulher com deficiência visual e lésbica, o que a leva a questionar as normas sociais sobre o que significa ser uma pessoa com deficiência. O filme desafia as representações tradicionais de pessoas com deficiência e desconstrói estigmas, mostrando que as pessoas com deficiência também possuem desejos, vontades, perspectivas, ambições, sentimentos, erros, acertos, expectativas e relacionamentos. O filme evidencia que essas pessoas são dignas de uma história que represente suas vidas como um todo e não somente sobre a sua deficiência. 

Desse modo, penso que a deficiência é representada no filme do ponto de vista biopsicossocial. Ou seja, reconhece que a deficiência é uma interação entre a condição biológica e as barreiras sociais. Isso acontece porque o filme não retrata Laila como uma pessoa incapaz, não a apresenta como uma pessoa que precisa ser curada, nem a vê exclusivamente como alguém com uma limitação física. Ao contrário, a deficiência é abordada como parte de sua vida. Assim, a obra explora diferentes aspectos da protagonista e retrata suas vivências com sensibilidade, celebrando não somente novos relacionamentos com outras pessoas, mas da personagem com ela mesma. Ademais, o nome da obra deve-se a um momento em que a personagem, ao começar a ter novas experiências, vai a encontro com a namorada, pede uma bebida alcoólica pela primeira vez, e escolhe o drink margarita, com um canudinho para conseguir bebê-lo, vivendo novos momentos em sua trajetória. 

Nesse contexto, o filme evidencia que as limitações são muito mais da sociedade, e não do corpo com deficiência, fazendo o expectador repensar suas concepções e a sociedade que temos. Ademais, é importante citar que a atriz que interpreta Laila não é uma pessoa com paralisia cerebral, logo, é necessário questionar e refletir se o filme que está tentando ser inclusivo e abordar o tema através da experiência em afetos, também coloca isso em prática. Consequentemente, o Cripface, prática onde personagens com deficiência são interpretados por atores sem deficiência, está presente na produção. Dessa maneira, é necessário citar e problematizar uma prática que pode ser capacitista e discriminadora em relação às pessoas com deficiência. 

Portanto, é importante pensar a representatividade e inclusão em um todo, não somente na história, mas também em quem a retrata. Logo, mesmo com algumas considerações, o longa-metragem revela como o cinema pode ser uma ferramenta poderosa na construção de novas narrativas sobre a deficiência. Isso ocorre, pois mesmo evidenciando as barreiras sociais que tornam a vida de Laila mais difícil, ela não é definida apenas por sua condição física, mas por sua humanidade, seus desejos e sua luta por autonomia, refletindo sobre o que significa ser humano e viver de maneira plena. 

Escrito por

Foto de Barbara Kellen dos Anjos Rodrigues

Barbara Kellen dos Anjos Rodrigues

Graduanda em Pedagogia pela UFMG.